quinta-feira, 9 de julho de 2009

Menopausa

A menopausa, que significa a cessação das menstruações, é um fenómeno fisiológico que se deve à redução gradual do funcionamento dos ovários. Estas glândulas deixam, assim, de libertar óvulos, mensalmente, e de produzir hormonas femininas, os estrogénios. Portanto, o organismo deixa de estar exposto aos habituais níveis elevados de estrogénio e assim se cria um novo ambiente hormonal que se designa por hipoestrogenismo. Antes da menopausa há doenças que se acompanham também de hipoestrogenismo, o que determina efeitos em vários órgãos e sistemas. Se, na fase da menopausa, houver uma redução rápida e intensa dos estrogénios, é natural que nestas mulheres haja sintomas muito mais exuberantes do que nos casos em que o hipoestrogenismo se vai instalando lenta e progressivamente.

Assim sendo, as mulheres que se encontram na primeira situação sentir-se-ão doentes, ao invés das que correspondem à segunda situação. As primeiras necessitarão tratamento específico, para alívio dos seus sintomas. As segundas só o farão se os seus médicos pretenderem fazer a prevenção de doenças que surgirão anos mais tarde em consequência do hipoestrogenismo.

É sabido que o aumento da esperança média de vida e a diminuição da mortalidade têm contribuído para um envelhecimento global da população. Como consequência, há uma percentagem cada vez maior da população feminina que está em pós-menopausa. Actualmente, as mulheres viverão cerca de um terço da sua vida em pós-menopausa. Além de novos problemas com que irão deparar-se, sob os pontos de vista psicológico, social e financeiro, irão sentir os efeitos da privação das hormonas sexuais femininas sobre vários órgãos. Isto resultara em riscos aumentados de doença a nível cardiovascular, ósseo e psíquico. Os tratamentos de correcta compensação hormonal permitem dar "mais anos as suas vidas e mais vida aos seus anos", como tem sido dito e provado repetidas vezes.

Lamentavelmente, só cerca de 15% das mulheres que iniciaram um tratamento o mantêm após um ano, o que significa que a grande maioria da população feminina não está a ser correctamente tratada e protegida. Isto deve-se, sobretudo, à falta de informação e à desinformação. Neste aspecto, a responsabilidade cabe-nos a nós, médicos, porque não sabemos ainda dar a informação suficiente. 0 problema não se verifica apenas em Portugal.



SINTOMATOLOGIA

A menopausa é apenas o início de mais uma fase da vida da mulher após ter terminado a sua capacidade reprodutiva. Por isso, cessaram as menstruações. É antecedida por uns anos ou meses (pró-menopatisa) caracterizados por irregularidades menstruais devidas à falta de ovulações. Durante esse tempo pode haver menstruações abundantes que traduzam a presença de anomalias do útero e que constituem um risco para doenças graves se não forem corrigidas, tanto do útero como da mama. Na pós-menopausa surgem outros sintomas devido, a falta de hormonas femininas. Por serem diferentes causam, por vezes, dificuldades de diagnóstico para quem não esteja familiarizado com este problema.

São frequentes os afrontamentos, calores súbitos, dores de cabeça, insónias, humor depressivo, irritabilidade, secura da vagina, dificuldades sexuais. incontinência urinária, aumento de peso, modificação da pele e do cabelo, dores ósseas e articulares (Quadro 1 ). Há, também, tendência para o aumento de pressão arterial, subida de colestrol e, por vezes, para o aparecimento de dores pré-cordiais e alteração no electrocardiograma.



Quadro 1 Sintomas e Sinais da Menopausa



- Paragem das Menstruações

- Sintomas Vasomotores: afrontamentos, calores súbitos. sudação, cefaleias

- Sintornas Psíquicos: humor depressivo, Insónias, irritabilidade

- Sintoinas Urogenitais: incontinência urinária, secura da vagina, dificuldades sexuais

- Sintonias Cardiovasculares,: aumento da pressão arterial e do colesterol, pré-cordialgias, alterações no E.C.G.

- Outros: aumento de peso, modificação da pele e do cabelo, artralgias, dores ósseas,








INDICAÇÕES

Sempre que não haja contra-indicação deve ser feita a substituição hormonal. Por isso, nunca se deve iniciar um tratamento sem que se conheçam os resultados de uma mamografia, ecografia ginecológica, análises bioquímicas, citologia cervico-vaginal (Papanicolaou) (Quadro 2).



Quadro 2 Exames a Efectuar antes de Iniciar a Terapêutica Hormonal de Substituição



- Exame ginecológico com citologia cervico-vaginal (Papanicolaou)

- Mamografia

- Ecografia ginecológica

- Perfil lipídico

- Densitometria







Não são contra-indicação a maioria das hipertensões arteriais, o enfarte do miocárdio, a "angina de peito", o acidente vascular cerebral, a trombose venosa superficial, as varizes, a diabetes, a obesidade, os antecedentes familiares de cancro da mama, o tabagismo, etc. (Quadro 3).



Quadro 3 Situação em que a Terapêutica Hormonal de Substituição é Erradamente Contra-indicada

- Hipertensão arterial

- Doenças das coronárias: angor, enfarte do miocárdio

- Acidentes cérebro-vasculares

- Varizes, trombose venosa superficial

- Obesidade, diabetes

- Antecedentes familiares da Neo da mama






CONTRA-INDICAÇÕES

A presença de cancro da mama e do útero, os sangramentos vaginais de causa desconhecida, os acidentes trombo-embólicos, em fase aguda, as doenças graves do fígado, os nódulos da mama de natureza não esclarecida (Quadro 4).



Quadro 4 Contra-indicações da Terapêutica Hormonal de Substituição



- Adenocarcinomas do útero e da mama

- Sangramentos vaginais não esclarecidos

- Acidentes trombo-embólicos agudos

- Doenças graves do fígado

- Nódulos da mama de causa não esclarecida






TRATAMENTO

Nas mulheres que têm útero devem utilizar-se sempre as duas hormonas femininas: os estrogénios e a progesterona, administrados em combinação diária ou sequencialmente (no primeiro caso, não surgem sangramentos; no segundo, há "menstruações" mensais). As mulheres sem útero devem ser tratadas apenas com estrogénios. É necessário tomar o equivalente a 1 grama de cálcio por dia (contido em 1 litro de leite). Recomenda-se o exercício físico regular e uma alimentação bem equilibrada e com muitas fibras (vegetais, cereais etc.). 0 uso de antidepressivos e tranquilizantes é raramente necessário, mesmo quando pareça estarem indicados.

Cada caso tem de ser estudado criteriosamente, de modo a escolher-se o melhor tipo de hormonas a utilizar, a dose recomendada e a melhor via da sua administração. Durante o tratamento é indispensável verificar se se obtém a desejada eficácia clínica e se há normalização dos factores de risco ósseo e cardiovascular.



EFICÁCIA


Desaparecimento dos afrontamentos, insónias, irritabilidade e crises depressivas. Humidificação da vagina e melhoria da vida sexual. Redução de dores ósseas. Normalização de pressão arterial e do colesterol. Normalização do peso. Melhoria da pele do cabelo que. Redução da perda da massa óssea (por vezes, até aumenta) com redução em 50% do risco de fracturas. Grande redução do risco de doenças cardíacas que são a principal (50%) causa de morte das mulheres (o cancro é causa de morte em apenas 5%). A melhoria substancial da qualidade vida e da longevidade.

Transcrevemos, para finalizar, a síntese da primeira conferência do Congresso da Sociedade Europeia de Menopausa (Montreux-Setembro, 1995)

A Conferência analisou, detalhadamente, os seguintes aspectos: ossos e articulações, doenças cardiovasculares, problemas da bexiga, aspectos mentais e sexuais, cancros hormonodependentes, estilo e qualidade de vida e aspectos práticos.

O ossos e articulações: a medição da massa e densidade dos ossos é forma mais rigorosa de previsão do risco de fracturas; é muito mais válida do que os doseamento do colesterol para se prever o risco de doenças cardiovasculares. Os estrogénios são o tratamento de eleição para se evitar a osteoporose após a Menopausa ( a junção de progestogénios se a mulher tiver ainda útero). Quando seu uso estiver contra-indicado há medicamentos que evitam com eficácia a desmineralização óssea. As doenças articulares podem, também, melhorar com estes tratamentos. Todas as mulheres, de qualquer idade, devem ingerir suplementos de cálcio e a vitamina D.

Doenças cardiovasculares: as doenças coronárias são principal causa do morte das mulheres europeias. É urgente a adoptar medidas que reduzam o risco destas doenças nas mulheres pós-menopáusicas, o que é essencial para a saúde pública e individual. Há evidência de que os estrogénios são muito eficazes na prevenção primária e secundária destas lesões arteriais. Os estrogénios podem normalizar as alterações metabólicas subjacentes ( colesterol, resistência a insulina, etc.). Exercem, também, efeitos directos benéficos sobre o coração e vasos.

Bexiga: os estrogénios melhoram a incontinência urinária e outros problemas urogenitais, tais como as infecções urinárias da repetição.

De momento, pode ter-se muita confiança em que o efeito do tratamento hormonal de substituição é nitidamente benéfico em relação à longevidade e qualidade de vida.

Estilo e qualidade de vida: o tratamento com estrogénios melhorará, geralmente, a qualidade vida. A segurança e a eficácia destes tratamentos não são suficientes para garantir que os tratamentos durem muitos anos, como é indispensável para se colherem todos os benefícios. É cada vez mais necessário uma boa informação das mulheres e aconselhamento médico detalhado. O papel desempenhado por grupos de apoio é muito importante.

Aspectos práticos: as hormonas utilizadas (estrogénios e progestagénios) têm características diferentes, o que exige a sua adaptação a cada caso para se evitarem alguns efeitos secundários. Os esquemas e vias da administração são variáveis e adaptáveis a cada caso. Desde que se sigam rigorosamente os princípios já estabelecidos, os tratamentos são seguros e eficazes.




caracolinhos

Sem comentários: