terça-feira, 28 de abril de 2009

Marilyn Monroe

Os primeiros anos

Marilyn Monroe nasceu no County Hospital em Los Angeles. Como a identidade de seu pai era desconhecida, recebeu o nome de Norma Jean Baker. Muitos biógrafos acreditam que o pai biológico de Marilyn era Charles Stanley Gifford, um agente de vendas do estúdio RKO, onde Gladys Pearl Monroe, a mãe de Marilyn, trabalhava. Ela era editora de filmes, mas problemas psicológicos a impediram de permanecer no emprego e ela foi levada para uma instituição de tratamento psiquiátrico. A certidão de nascimento diz que o segundo marido de Gladys, Martin Edward Mortensen, é que é o pai biológico de Marilyn. Numa entrevista ao canal de televisão Lifetime, James Dougherty, o primeiro marido de Marilyn, disse que ela acreditava que Gifford era o seu pai.

Norma Jean passou grande parte de sua infância em casas de família e orfanatos até que, em 1937, ela mudou-se para a casa de Grace Mckee Goddard, amiga da família. Em 1942, o marido de Grace foi transferido para a costa leste, e o casal não tinha condições financeiras para levar Norma Jean, na época com dezesseis anos. Norma Jeane tinha duas opções: voltar para o orfanato ou se casar.

No dia 19 de julho de 1942 casou com Jimmy Dougherty, de 21 anos, a quem estava namorando há seis meses. Segundo Jimmy, ela era uma menina doce, generosa e religiosa e que gostava de ser abraçada. Até então, Norma Jean amava Jimmy e eles estavam muito felizes juntos, até que ele entrou para a Marinha e foi transferido para o Pacífico Sul, em 1944.

Após a partida de Jimmy, Norma Jean começou a trabalhar na fábrica Radio Plane Munition, em Burbank, na Califórnia. Alguns meses depois, o fotógrafo Davis Conover a viu enquanto estava tirando fotos de mulheres que estavam ajudando durante a guerra, para a revista Yank. Ele não acreditou na sua sorte, pois ela era um "sonho" para qualquer fotógrafo. Norma Jean posou para uma seção de fotos e ele começou a lhe enviar propostas para trabalhar como modelo. As lentes adoravam Norma Jean, e em dois anos ela tornou-se uma modelo respeitável e estampou seu rosto em várias capas de revistas. Ela começou a estudar o trabalho das lendárias atrizes Jean Harlow e Lana Turner, e inscreveu-se em aulas de teatro, sonhando com o estrelato. Porém, o marido Jimmy retornou em 1946, o que significou que Norma Jeane tinha que fazer outra escolha, dessa vez entre seu casamento e sua carreira.

Norma Jean e Jimmy divorciaram-se em junho de 1946. Norma assinou seu primeiro contrato com a Twentieth Century Fox em 26 de agosto de 1946, em que ganhava $125 por semana. Pouco tempo depois, tingiu seu cabelo de loiro e mudou seu nome para Marilyn Monroe, que era o sobrenome da sua avó materna.

O início da carreira


Marilyn começou a carreira em alguns pequenos filmes, mas a sua habilidade para a comédia, a sua sensualidade e a sua presença no ecrã, levaram-na a conquistar papéis em filmes de grande sucesso, tornando-a numa das mais populares estrelas de cinema dos anos 50. Tinha 1,67 m de altura, 94 cm de busto, 61 cm de cintura e 89 cm de quadril. Apesar de sua beleza deslumbrante, suas curvas e lábios carnudos, Marilyn era mais do que um símbolo sexual na década de 50. Sua aparente vulnerabilidade e inocência, junto com sua inata sensualidade, a tornaram querida no mundo inteiro.

O primeiro papel de Marilyn em um filme foi uma participação, em 1947, em The Shocking Miss Pilgrim. Fez pequenas atuações até 1950, quando conseguiu um pequeno, mas influente papel no thriller de John Huston, The Asphalt Jungle. Ainda naquele ano, a aparição relâmpago de Marilyn, no papel de Claudia Caswell em All About Eve, estrelado por Bette Davis, lhe rendeu muitos elogios. A partir daí, participou de filmes como: Let's Make It Legal, As Young As You Feel, Monkey Business e Don't Bother to Knock. No entanto, foi sua performance em Niagara, em 1953, que a tornou estrela. Marilyn fez o papel de Rose Loomis, uma jovem e bela esposa que planeja matar seu velho e ciumento marido, personagem de Joseph Cotten.

O sucesso

O sucesso de Marilyn em Niagara lhe rendeu os papéis principais em Gentlemen Prefer Blondes, que contou com a participação de Jane Russell, e How to Marry a Millionaire, com participação de Lauren Bacall e Betty Grable. A revista Photoplay votou Marilyn como melhor atriz iniciante de 1953 e, aos 27 anos de idade, ela era sem dúvida a loira mais amada de Hollywood.
MM em show para as tropas americanas na Coréia

No dia 14 de janeiro de 1954, Marilyn casou com o jogador de baseball Joe DiMaggio, em São Francisco, na Califórnia. Eles namoravam há dois anos quando Joe pediu a seu agente que organizasse um encontro para os dois jantarem e a pediu em casamento. "Eu não sei se estou apaixonada por ele ainda", disse Marilyn à imprensa logo no início de seu relacionamento, "mas eu sei que eu gosto dele mais do que qualquer homem que já conheci". Durante sua lua de mel em Tóquio, Marilyn fez uma performance para os militares que estavam servindo na Coréia. A sua presença causou quase um motim, e Joe estava claramente incomodado com aqueles milhares de homens desejando sua mulher.

Infelizmente, a fama de Marilyn e sua figura sexual tornaram-se um problema em seu casamento. Nove meses depois, no dia 27 de outubro de 1954, Marilyn e Joe se divorciaram. Eles atribuíram a separação a "conflitos entre carreiras", e permaneceram bons amigos.

Em 1955, Marilyn estava pronta para livrar-se da imagem de furacão loiro. Isso tinha dado a ela o estrelato, mas agora que ela tinha a oportunidade e a experiência, Marilyn queria seguir com seriedade a carreira de atriz. Ela mudou-se de Hollywood para Nova York, para estudar na escola de atores de Lee Strasberg. Em 1956, Marilyn abriu sua própria produtora, Marilyn Monroe Productions. A empresa produziu os filmes Bus Stop e The Prince and the Showgirl, que contou com a participação de Sir Laurence Olivier. Esses dois filmes serviram para Marilyn mostrar seu talento e versatilidade como atriz. Marilyn foi reconhecida pelo seu trabalho em Some Like It Hot, de 1959, quando venceu o Golden Globe de "Melhor Atriz em Comédia".
Marilyn em The Seven Year Itch

No dia 29 de junho de 1956, Marilyn casou-se com o dramaturgo Arthur Miller. O casal se conheceu através de Lee Strasberg, e amigos disseram que ela o deixava de "joelhos bambos". Enquanto eles estavam casados, em 1961, Arthur escreveu o papel de "Roslyn Taber" de The Misfits, especialmente para Marilyn. Estavam também no elenco Clark Gable e Montgomery Clift. Infelizmente, o casamento entre Marilyn e Arthur terminou no dia 20 de janeiro de 1961 e o filme foi o último filme por completo em que Marilyn, e Gable também, atuou.

A data do divórcio, ocorrido no México, foi escolhida por ser o dia da posse do presidente John F. Kennedy, nos Estados Unidos, numa tentativa de manter a separação fora das manchetes. A tática não funcionou.

Marylin já tinha tido encontros amorosos com Kennedy muito antes dele entrar na Casa Branca. Kennedy ficara obcecado por ela durante sua recuperação de uma operação na coluna que o deixou imobilizado. Seu irmão Bobby pendurou, de cabeça para baixo, um poster onde ela vestia short e estava de pernas abertas, em frente à cama do seu quarto. O caso entre eles teve início depois de seu divórcio de Vitor Baggio e continuou, esporadicamente, enquanto ela esteve casada com Miller. Eles se encontravam na suite dele do Carlyle Hotel, em Nova Iorque, ou na casa de praia de Peter Lawford, em Santa Monica. O FBI grampeou a casa de praia de Peter Lawford e John Edgar Hoover, o chefe do FBI, usou as gravações para manter seu cargo quando Kennedy tentou demiti-lo. Hoover também insinuou que alguém mais havia grampeado a casa - a Máfia, com que Kennedy cruzara durante as eleições. Robert Kennedy, o irmão mais novo do presidente, por vezes se relacionava com as mulheres de John. Era o chefe de Hoover e, como procurador-federal, estava determinado a acabar com a Máfia. Advertira o presidente para deixar Marilyn, pois os chefes mafiosos poderiam usar o caso contra ele. Apesar de suas ilusões, Marilyn sabia que Kennedy desejava apenas a estrela cintilante de cinema, não a mulher que era. Ele pretendia livrar-se dela com elegância. Concedeu a Marilyn um último momento de glória. Em seu aniversário, Peter Lawford levou-o à sede do Partido Democrático, onde ela cantou com voz lasciva "Feliz aniversário, senhor presidente", metida num vestido que o diplomata Adlai Stevenson descreveu como feito de "pele e pérolas. Só que não vi as pérolas." John Kennedy disse: "Já posso me retirar da política, depois de ter ouvido este feliz aniversário cantado para mim de modo tão doce e encantador."

Nos Golden Globes de 1962, Marilyn foi nomeada a "personalidade feminina favorita de todo cinema mundial", provando mais uma vez que era mundialmente adorada.

Os últimos anos

Seu fim aconteceu na manhã do dia 5 de agosto de 1962. Aos 36 anos, Marilyn faleceu enquanto dormia em sua casa em Brentwood, na Califórnia. A notícia foi um choque, propagado pela mídia, explorando sobretudo o caráter misterioso em que o fato se deu, prevalecendo a versão oficial de overdose pela ingestão de barbitúricos. O brilho e a beleza de Marilyn faziam parecer impossível que ela tivesse deixado a todos. Ninguém sabe de fato o que aconteceu naquela noite. Ouviu-se o barulho de um helicóptero. Uma ambulância foi vista esperando fora da casa dela antes que a empregada desse o alarme. As gravações de seus telefonemas e outras evidências desapareceram. O relatório da autópsia foi perdido. Toda a documentação do FBI sobre sua morte foi suprimida e os amigos de Marilyn que tentaram investigar o que acontecera receberam ameaças de morte. No dia 8 de agosto de 1962, o corpo de Marilyn foi velado no Corridor of Memories, nº 24, no Westwood Memorial Park em Los Angeles.

Durante sua carreira, Marilyn atuou em 30 filmes e deixou por terminar Some things Got to Give. Seu nome representa ainda hoje mais que uma estrela de cinema e rainha do glamour, sendo para muitos um ícone, sinônimo de beleza e sensualidade.

Marilyn Monroe personificou o glamour de Hollywood com incomparável brilho e energia que encantaram o mundo.

Filmografia
Filmografia Principal
The Asphalt Jungle (1950) | All About Eve (1950) | Niagara (1953) | Gentlemen Prefer Blondes (1953) | How to Marry a Millionaire (1953) | River of No Return (1954) | The Seven Year Itch (1955) | Bus Stop (1956) | The Prince and the Showgirl (1957) | Some Like it Hot (1959) | Let's Make Love (1960) | The Misfits (1961)




Gica

cores de uma mulher



Caracolinhos

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Beatriz Costa





Beatriz da Conceição nasceu a 14 de Dezembro de 1907 no lugar da Charneca do Milharado, no Casal Barreiro, concelho de Mafra e baptizada no Orago de S. Miguel.

Filha primogénita de pais portugueses vai aos 4 anos de idade com a sua mãe para Lisboa, que viria a trabalhar em casa de José Malhoa e que depois passou a costurar no Casão.

Após segunda união matrimonial da mãe com um oficial inferior que pertencia ao quinze de Tomar, a família de Beatriz muda-se para esta localidade e aí permanece durante 6 anos (tempo em que acompanha o padrasto nas suas funções de carreira de tiro, perto do prado, e tem as sua primeiras surpresas do cinema).

Regressa a Lisboa e residiria, por pouco tempo, no Castelo, por motivos profissionais do seu padrasto, vindo a fixar residência na parte nova da cidade, perto da Avenida.


Foi ajuntadeira, trabalhando em casa, mas optaria pela profissão de bordadeira.

Espectadora entusiasta do teatro ligeiro popular teve como primeiro ídolo Lina Demoel e deixa-se absorver pelo sonho de vir a pisar os palcos do Parque Mayer, de se envolver pelo ambiente dos bastidores e de ouvir a crepitação das palmas. É então que família resolve dar-lhe a experimentar o teatro de revista.

Obteve a recomendação por intermédio de Fernando Pereira, cliente e amigo de um cabeleireiro vizinho de seu padrasto, que intercedeu por ela junto de Ema de Oliveira que se prontificou a escrever um bilhete de apresentação a António de Macedo, empresário, nessa altura, do Éden.

Estreou-se como corista aos 15 anos na revista reposta "Chá e Torradas" (1923) no Éden e seguiu em tournée para o Alentejo e Algarve e viria a ser crismada com o nome de Beatriz Costa por Luís Galhardo.

A 22 de Julho de 1924 participa na revista "Rés Vés" , no Teatro Maria Vitória e, dado o agrado da sua actuação, António de Macedo ensaia-la-ía no Teatro Avenida para um númerozinho que a "elevaria de posto".

Na manhã de 24/07/24, com 16 anos e meio, embarca no "Lutelia" com a Companhia para o Brasil e lá permaneceu até 1926. A bordo do navio foi repescada para cantar o número "Mademoiselle Garoto", o qual trisou (António de Macedo estava convicto da sua nova actriz).

O êxito foi crescendo em revistas e operetas como "Piparote", "Disparate", "Aqui D'el Rei", "31", "De Capote e Lenço", "Tim Tim por Tim Tim", "O Gato Preto", "As 11 Mil Virgens", "Rataplan", etc.

Com estreia a 12 de Agosto de 1924 no Teatro República, no Rio de Janeiro, contou com alguns papéis destacados na revista "Fado Corrido" onde cantou com igual êxito "Mademoiselle Garoto" e foi felicitada pela imprensa e pelos espectadores.

Na segunda revista, "Tiro ao Alvo", estava já encarregada de quatro ou cinco papéis.

Regressa a Lisboa já em lugar de destaque ao lado de Nascimento Fernandes em "Ditosa Pátria" , no Trindade, a 7 de Julho de 1925.

A 11 de Agosto de 1925 a Companhia do Trindade segue para o Porto apresentando-se no Sá da Bandeira e Beatriz faz a sua primeira ida como artista à cidade invicta.

De novo em Lisboa, em fins de Outubro de 1925, fazia parte da Companhia portuguesa de operetas organizada no S.Luís e enfileirou modestamente nos grupos de coristas e toma parte em várias zarzuelas: "A Monteria"; "A Canção do Olvidio"; "Os Gaviões"; "A Flor do Tejo"; e, em 1926, "A Moça de Campanilhas" e "O Pobre Valbuena".

De regresso à revista, passa pelos teatros "Joaquim de Almeida", "Éden" e "Maria Vitória" nas revistas "Fox Trot" , "Malmequer", "Olarila" , "Revista de Lisboa" e "Sete e meio".

Em 1927, e a traduzir uma moda cinéfila aparece pela primeira vez de franja e estreia-se no cinema em papéis episódicos de filmes de Rino Lupo - "O Diabo em Lisboa" - e, ainda no mesmo ano, havia dançado um tango em "Fátima Milagrosa" (do mesmo realizador) ao lado de Manoel de Oliveira.

Passou pelo "Mártir do Calvário" e pela revista "Água Fresca" no Apollo e depois por "Coração Português" e "Mãe Eva" com Eva Stachino. Transferindo-se com a Companhia de Eva Stachino para o Trindade, ali se estreou em "Pó de Maio" , onde conheceu o maior êxito da popularidade com o celebrado número "D. Chica e Sr. Pires" ao lado de Álvaro Pereira. A confirmação desse êxito viria com "Manda Quem Pode".

Na sua segunda tournée ao Brasil (1929), com a Companhia de Eva Stachino, ao Rio de Janeiro, foi recebida sobre as mais efusivas manifestações e relembrada a sua revelação como actriz nos grandes órgãos de imprensa da América do Sul. Em palcos brasileiros, a Companhia portuguesa de revistas apresentou-se a 19 de Setembro no "Lírico" com a revista de abertura "Pó de Maio" e com "Lua de Mel" como segundo espectáculo; e depois viriam, entre outras, "Meia Noite" , "Carapinhada" e "Mouraria".

Após breve excursão aos palcos de S. Paulo, Beatriz é convidada por Procópio Ferreira, comediante de indisputável relevo no teatro brasileiro, para ficar a trabalhar no Rio de Janeiro integrando o elenco da sua Companhia de comédias; mas a proposta seria recusada.

De volta ao continente, e ainda neste ano, Beatriz Costa aparece no documentário "Memória de uma Actriz" (com base nos artigos que já escrevia para "O Século" a contar episódios pícaros da sua carreira).

Em 1930 era a vez de participar no filme "Lisboa, Crónica Anedótica" de Leitão de Barros.

Experimentou a comédia ligeira com êxito marcado, estreando-se em "A Estrela da Avenida" e prosseguindo com "A Garota da Sorte".

Em Dezembro de 1930, durante a visita de Ressano Garcia, gerente da Paramount em Lisboa, recebe um convite de Blumenthal e San Martin para um contrato muito vantajoso para o papel da protagonista de "A Minha Noite de Núpcias" (da versão original "Her Wedding Night" de Frank Tuttle e que na versão portuguesa foi dirigida por Alberto Cavalcanti), o terceiro fonofilme em português a realizar nos estúdios de Joinville.

A curiosidade de uma viagem e de filmar imediatamente em Paris fê-la assinar o contrato no dia 23 de Janeiro de 1931.

Recebendo sempre provas de apreço desde o pessoal dos estúdios à mais considerada vedeta destaca das suas colegas estrangeiras Olga Tsehekova e Camila Horn.

Deixa a Companhia e é contratada por Corina Freire para participar nos êxitos de revistas como "A Bola", "Pato Marreco", "O Mexilhão" , "Pirilau" ou "Chá da Parreira".

Vai para o Porto trabalhar no teatro.

Numa ida a Espanha, a convite da Casa da Imprensa de Badajoz para uma festa, no Teatro Lopez Ayola, obteve estrondoso êxito ao representar "Burrié" e foi homenageada juntamente com os outros artistas portugueses que a acompanhavam (Amarante e Nascimento Fernandes).

Em 1933 a sua imagem perenizava-se n' "A Canção de Lisboa" e em 1936, aquando a lendária revista "Arre Burro", faz parte do elenco de "O Trevo de Quatro Folhas" , dirigido por Chianca de Garcia.

Em 1937 a Beatriz ganha ao lado de Vasco Santana os votos de preferência dos cinéfilos portugueses e são eleitos "príncipes do cinema português".


Entre novas revistas até ao fim da década, contaram-se "Há festa na Mouraria" (1937), "Sempre em Pé" (1938), "É Real" (1939); e ao cinema voltou para "A Aldeia da Roupa Branca" (1939, de Chianca de Garcia) no papel da lavadeira Gracinda - o seu último filme aos 31 anos.

Neste mesmo ano de 1939, Beatriz Costa aceitou novo convite para o Brasil (dada a sua enorme popularidade) para uma temporada que se prolongou por 10 anos (de 1939 a 1949), a que chamou "os melhores anos da sua vida". Quase sempre actuou no Casino de Urca, no Rio, desde os tempos do "Tiro-Liro-Liro" (um dos seus mais lendários êxitos) até ao final da década, altura do seu único casamento em 1947, com Edmundo Gregorian (poeta, escritor, escultor), de quem se divorciou dois anos depois.

Em 1949, Beatriz voltou aos palcos de Lisboa para uma revista no "Avenida", cujo título diz tudo sobre o mito que continuava a ser: "Ela aí está!". E, aos 41 anos, repetiu os êxitos de há 20 anos atrás.

Ainda apareceu em Lisboa em revistas de sucesso como "Com Jeito Vai", mas em 60 despediu-se dos palcos em "Está Bonita a Brincadeira" e decidiu que nunca mais.

A partir desta altura começa a dedicar-se às viagens por todo o mundo, assistindo a todos os festivais de teatro, de Ocidente a Oriente, e conheceu personalidades como Salvador Dali, Pablo Picasso, Greta Garbo, Edith Piaf ou o Rei Hassan II de Marrocos.

Depois do 25 de Abril - quando já vivia no Hotel Tivoli, onde viveu até morrer - começou a publicar livros sobre a sua espantosa vida (já anteriormente a " publicara" em vários capítulos nas "Páginas das Minhas Memórias" nos anos 30), aconselhada e incentivada por Tomás Ribeiro Colaço. De notar que não sabia escrever até aos 13 anos, mas aprendeu sozinha seguindo a sua ambição de saber (a sua alfabetização começou à mesa da "Brasileira" rodeada por homens como Almada Negreiros, Gualdino Gomes, Aquilino Ribeiro, Vitorino Nemésio entre outros.).

Após o seu reaparecimento num espectáculo da Casa da Imprensa que decorreu no Coliseu foi sistematicamente solicitada pelos órgãos de comunicação social e espantou-se com as óptimas reacções do público leitor em relação a essa outra faceta da sua vida - escrever.

Em 1977 é editado pela Emi-Valentim de Carvalho um álbum que compila vários dos seus sucessos musicais e que em 1996 seria reeditado com o título "Grande Marcha de Lisboa" na Colecção Caravela da mesma editora.

Apesar das muitas propostas para regressar aos palcos (por Vasco Morgado) preferiu ficar longe deles por considerar o teatro de revista muito diferente do que era, por "estar decadente".

Muitos foram também os convites para programas de televisão (por Joaquim Letria) e, de facto, viria a participar como membro de júri no concurso "Prata da Casa" apresentado por Fialho Gouveia e que visava lançar jovens no mundo do espectáculo.

Um grupo de jovens chegaria mesmo a propôr a sua candidatura simbólica nas eleições presidenciais de 85 como meio de comemorar O Ano Internacional da Juventude do ano seguinte.

Morreu dia 15 de Abril de 1996, aos 88 anos com a serenidade que os deuses deviam conceder sempre a quem propagou alegria à sua volta.

Caracolinhos

domingo, 26 de abril de 2009

Cancro da mama




O cancro da mama é a forma de cancro mais comum na mulher. As taxas de incidência têm vindo a subir na segunda metade deste século.

* Calcula-se que uma em cada 10 mulheres irão desenvolver cancro da mama ao longo da sua vida.
* Se a doença é detectada cedo, antes de ter tido hipóteses de progredir (metastizar) atingindo outros tecidos para além da mama, a taxa de sobrevivência pode chegar a 95%, durante pelo menos 5 anos
* Apesar dos avanços no diagnóstico e tratamento, o cancro da mama continua a ser a primeira causa de morte das mulheres entre os 35 e os 55 anos e a segunda entre as mulheres de todas as idades. Na Europa, quase 20% de todas as mortes por causa oncológica são devidas ao cancro da mama.

Factores de risco

Os factores de risco que podem aumentar a probabilidade de desenvolver cancro da mama incluem:

* história familiar da doença
* envelhecimento
* exposição aos agentes cancerígenos
* não ter filhos (nuliparidade) ou ter o primeiro filho depois dos 30 anos).

Sinais e sintomas do cancro da mama

* A realização do auto-exame é fundamental para detectar o cancro da mama. Nos EUA, 90% de todos os cancros da mama são descobertos pela própria, muitas vezes apenas como um caroço, pequeno e firme. Na maior parte dos casos (66%) o caroço não é doloroso embora algumas mulheres (11%) refiram dor.
* Outros sinais de alarme incluem
o Perda de sangue ou de líquido pelo mamilo
o Acumulação local de fluidos tecidulares (edema)
o Alteração no tamanho, no bordo ou na posição do mamilo

Diagnóstico

Uma vez detectado, a presença do tumor pode ser confirmada pelo médico de diversas formas, como palpação, aspiração através de agulha muito fina, mamografia e biópsia.

Tratamento

* O cancro da mama é tratado por meio de uma diversidade de modalidades, incluindo a quimioterapia, a radioterapia e a cirurgia (mastectomia, quadrantectomia ou lumpectomia) e a terapêutica hormonal. Estes tratamentos são administrados com o objectivo de curar o cancro e/ou limitar a disseminação da doença, proporcionando o alívio dos sintomas.
* Considera-se que a mulher está a responder ao tratamento se se verificar uma diminuição de pelo menos 50% nas dimensões do tumor. Há diversos factores que afectam o sucesso da terapêutica:

* tipo, tamanho e velocidade de crescimento do tumor primário
* número de nódulos linfáticos envolvidos
* extensão da expressão do oncogene
* estado dos receptores do estrogéneo e dos receptores do factor de crescimento epidérmico.

Potenciais novas opções de tratamento

# Tratamentos sistémicos contra o cancro, como a quimioterapia e a radioterapia, têm sido as principais armas usadas para a luta contra o cancro.
# Começam a estar disponíveis novas terapêuticas contra o cancro com mecanismos de acção inovadores. Estes fármacos que actuam directamente nas células cancerosas, poupam o organismo aos efeitos secundários, por vezes devastadores, associados aos tratamentos convencionais contra o cancro.

Além disso, uma vida menstrual longa, resultado de uma menarca precoce ou de uma menopausa tardia, aumenta o risco de cancro. Finalmente, alguns investigadores acreditam que a obesidade, uma alimentação rica em gorduras, a ingestão excessiva de álcool e o uso de medicamentos contendo estrogénios (terapêutica de substituição hormonal ou pílulas anticoncepcionais) podem aumentar o risco de cancro. No entanto, 80% das mulheres com o diagnóstico de cancro da mama não têm factores de risco conhecidos.

retido de http://www.roche.pt/

Gica

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Mocidade Portuguesa Feminina





A 8 de Dezembro de 1937, foi criada a Mocidade Portuguesa Feminina (MPF).

Esta tinha como objectivo criar uma nova mulher portuguesa: boa esposa, boa mãe, boa doméstica, boa cristã, boa cidadã sempre pronta a contribuir para o Bem comum, mas sempre longe da intervenção política, que era deixada para os homens. Era um movimento, obrigatório para mulheres dos sete aos catorze anos, e a elas era-lhes transmitido valores e comportamentos ditados pelo regime salazarista. Ao folhearmos alguns livros, deparamo-nos com raparigas fardadas de bandeira em punho, lições de lavores e trabalhos manuais ou outros afazeres da vida doméstica, indicações sobre o fato de banho oficial com decote pouco generoso e saia não muito curta, também há textos sobre a atitude a ter em casa com o marido, conselhos sobre livros fundamentais e outros proibidos aos olhos destas jovens.




De acordo com o regime esta organização: «cultivará nas filiadas a previdência, o trabalho colectivo, o gosto da vida doméstica e as várias formas do espírito social próprias do sexo, orientando para o cabal desempenho da missão da mulher na família, no meio a que pertence e na vida do Estado».


Caracolinhos

Marguerite Duras





MARGUERITE DURAS
Saigão - Indochina francesa, 1914-1950


Nascida em 2 de Abril de 1914, em Saigão, Indochina, onde passou a infância e a adolescência, Marguerite Duras iria ficar profundamente marcada pela paisagem e pela vida da antiga colónia francesa. Em 1932, fixou-se em Paris, onde estudou Direito, Matemática e Ciências Políticas. Após o armistício ingressou no Partido Comunista Francês, de que foi expulsa, em 1950, por dissidências ideológicas. Formada sob a influência da moderna narrativa norte-americana, e sobretudo de Hemingway, obteve renome internacional com a publicação do romance Un barrage contre le Pacifique (1950), cuja acção decorre na Indochina. Nesta obra, parcialmente autobiográfica, a autora narra a vida estranha de uma viúva francesa e de seu filho, implicados nos sofrimentos impostos pela corrupção do ambiente colonial francês, e atinge momentos de grande energia e de um vigor excepcional. Seguem-se outros romances, de que se destacam Le Square (1955), em que a autora envereda por uma técnica de narração que virá a ser uma característica dominante do seu ficcionismo e que a associou ao movimento do nouveau roman . Autora de peças de teatro e de vários filmes, entre os quais o célebre Hiroshima, meu amor, foi o seu romance O Amante, (prémio Goncourt de 1984), relato exacerbado de uma paixão na adolescência inquieta da escritora, que a tornou conhecida de um público vastíssimo, até aí arredado de uma obra considerada demasiado difícil e intimista. “Não podemos fazer mais do que amar - ou execrar - essa pequena mulher provocante, rodeada dos seus fantasmas (...). Essa pequena mulher, que roda sobre ela mesma como uma valsa solitária, terá sido uma senhora? Foi sobretudo uma mulher voraz de uma literatura que é um grito de amor ao longo de todas as páginas. Uma Piaf.” - Jean-François Josselin.

in Mulheres nas Letras, Mulheres dos Livros

Caracolinhos

quinta-feira, 23 de abril de 2009

As mulheres continuam afastadas do poder

Trinta e cinco anos depois do 25 de Abril, o estatuto social das mulheres mudou mas os altos cargos políticos continuam no "clube privado" dos homens, uma realidade que as estatísticas indicam repetir-se na administração e na diplomacia.

A social-democrata Manuela Ferreira Leite é caso raro no panorama político português: conquistou a liderança de um partido político e tem no seu currículo vários cargos de direcção de entidades públicas e privadas, mas é a excepção que confirma a regra em Portugal.

"A área política, como dizia a [escritora] Simone Weil, é o clube privado deles, é a área mais difícil para as mulheres entrarem", mas, se a competência fosse critério, hoje "não havia paridade, havia mais mulheres que homens na política", afirma Helena Roseta, numa provocação que traduz uma crítica aos partidos políticos.

Para a ex-deputada socialista, que pôs de pé um movimento político, "Cidadãos por Lisboa", e é vereadora na autarquia lisboeta, os partidos, historicamente liderados por homens, perpetuam o género no poder, fazendo das fidelidades o principal critério da elaboração das listas.

"As pessoas são escolhidas conforme a fidelidade que têm perante o líder da concelhia ou da distrital ou nacional. Isto é um mecanismo que para nós é muito estranho", afirmou, defendendo que os cidadãos possam contribuir para a composição das listas.

Helena Roseta defende que as causas da evolução lenta no acesso das mulheres à tomada de decisão não têm a ver com "qualquer conservadorismo social" mas sim "com falta de vontade política".

"Como é que é possível, nestes anos todos de democracia, nunca termos tido uma mulher presidente da Assembleia da República? (…) Algumas tentativas que as mulheres fizeram para tentar aproximar-se de lugares de chefia foram absolutamente cilindradas pelas direcções partidárias", afirmou.

Outro caso, único até agora, foi o de Maria de Lourdes Pintasilgo, a primeira mulher a candidatar-se à Presidência da República e a assumir o cargo de primeira-ministra em Portugal, entre Julho de 1979 e Janeiro de 1980.

São "excepções que confirmam a regra", assinalou Manuela Tavares, da União Mulheres Alternativa e Resposta, autora de vários estudos sobre mulheres, o último dos quais incidindo sobre os Feminismos em Portugal.

"A seguir ao 25 de Abril houve grandes movimentações sociais com grande participação e expressão das mulheres. Sucede que, nas primeiras eleições, em 1975, as mulheres ocuparam apenas 8 por cento dos lugares do Parlamento", frisou.

Uma "contradição" que Manuela Tavares atribui à "herança de uma sociedade conservadora em que a concepção de que a mulher pertencia à esfera privada teve um peso significativo".

Essa "herança e tradição de uma visão sexista do poder" explicam, ainda que haja outros factores, que apesar das alterações legislativas após o 25 de Abril, as mulheres ainda hoje estejam afastadas dos mais altos cargos seja na política, na administração pública, na magistratura ou na diplomacia.

Em 1976, a Constituição da República consagrou a igualdade entre os sexos e foram abolidas as restrições baseadas no sexo quanto à capacidade eleitoral. Dois anos depois, em 1978, desaparece do Código Civil a figura do "chefe de família" e a necessidade de autorização do marido para exercer uma profissão.

Para além da lei da paridade, que obriga a uma representação mínima de 33,3 por cento de cada um dos sexos nas listas, e que vai ser posta à prova pela primeira vez este ano nos três actos eleitorais previstos, Manuela Tavares defende que "o exemplo tem que vir do poder político".

"Num Governo com 17 ministros, temos duas ministras. Será que não havia mulheres competentes?", questiona.

A Comissão para a Cidadania e Igualdade aponta que "é na área de tomada de decisão que o crescimento da presença das mulheres se tem produzido a um ritmo mais lento".

Hoje as mulheres constituem 25 por cento dos 230 deputados à Assembleia da República, 6 por cento das presidências de câmara e 21 por cento dos 819 vereadores eleitos.

Dados da Comissão para a Cidadania e Igualdade indicam que em 2008 existia apenas uma mulher no Supremo Tribunal de Justiça e três mulheres no Tribunal Constitucional. Na diplomacia o cenário é semelhante: apenas 2 mulheres embaixadoras em 51 postos.

As mulheres só ultrapassam os homens nas direcções intermédias da administração pública, constituindo 53 por cento nos cargos de direcção intermédia de 2º grau.

No entanto, nas direcções de 1º grau as mulheres são apenas 28,9 por cento do total. O "deserto" é mais visível no mundo empresarial de topo, segundo dados da mesma Comissão, que identificou apenas três mulheres nos conselhos de administração das 19 maiores empresas.

SÓNIA FERREIRA/ LUSA

Gica

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Adelaide Cabete





Por Joaquim Eduardo

Adelaide Cabete é uma das figuras importantes da história portuguesa do início do século XX. Foi médica e professora, Nasceu em Elvas, em 25 de Janeiro de 1867 e faleceu em Lisboa, em 14 de Setembro de 1935. De origem humilde e órfã, desde criança conheceu o duro trabalho da ameixa e doméstico, em casas ricas de Elvas, nas quais, de ouvido, aprendeu os rudimentos da escrita e leitura. Cantando «Saias» na passeira das ameixas, atraiu a atenção de Manuel Cabete. Casaram e o marido, que a ajudava nas tarefas domésticas, lançou-a nos estudos e na militância republicana e feminista. Já com 22 anos fez o exame de instrução primária. Em 1895, mudam-se para Lisboa, onde é uma aluna ainda mais aplicada, dizendo-se que enquanto lavava o chão de sua casa, ia revendo as matérias de Anatomia no livro encostado ao balde. Foi uma das pioneiras na Universidade, na Maçonaria e no Feminismo. Na capital torna-se médica ( Ginecologista/Obstétra com consultórios na Baixa), publicista, republicana, maçón, feminista, anti–alcoólica, abolicionista, pacifista e defensora dos animais. Em 1929 vai com o sobrinho Arnaldo Brasão para Luanda, de onde regressa em 1934.

Foi médica e professora das «meninas de Odivelas», regendo a disciplina de Higiene e Puericultura, durante 17 anos, no Instituto Feminino de Educação e Trabalho. A experiência docente, as teorias pedagógicas, com exemplos práticos, que apresentou em Congressos, e as suas reivindicações de carácter feminista permitem considerá-la uma professora feminista.

Com outras mulheres feministas também importantes, criou e integrou organizações feministas, nelas exercendo diversos cargos. Foi mais de 20 anos Presidente do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. Representou no estrangeiro o governo português. Boa oradora, participou em Congressos e Conferências. Escreveu dezenas de artigos, de temática diversa, essencialmente de carácter médico–sanitário e cariz feminista. Manifestou as suas preocupações sociais, apresentando soluções e medidas profiláticas de doenças e epidemias.

Benemérita, defendeu sempre as mulheres grávidas pobres, as crianças, as prostitutas e os indígenas (Angola). Radical, por vezes, em assuntos de decência feminina, mostrou-se contrária à importação da moda feminina, criticando as saias curtas e recomendando o uso da saia até um palmo do chão. Humanista, aplaudiu o encerramento de tabernas e manifestou-se contra a violência nas touradas, o uso de brinquedos bélicos, etc, revelando-se uma vanguardista ao suscitar temas que mantêm a sua actualidade. Na maçonaria, com ideias de fraternidade, progresso e justiça, atingiu o grau de “Venerável” (20º-Grau do rito escocês com 35 Graus). Quando escrevia contra os monárquicos e os jesuítas denotava os seus ideais republicanos, confirmados no interior da Liga Republicana das Mulheres, a que esteve ligada. De ideias progressistas e muito avançadas para a época, reivindicou para as mulheres o direito a um mês de descanso antes do parto.

Alguns factos emolduram a sua vida pública, com actos simbólicos de cidadania e patriotismo. Em 1910, com duas companheiras, coseu e bordou a bandeira nacional hasteada na implantação da República, na Rotunda, em Lisboa. Em 1912 reivindicou o voto das mulheres. E em 1933 foi a primeira e única mulher a votar em Luanda a Constituição Portuguesa.

Mulher dinâmica, de forte personalidade e grande frontalidade. O seu dinamismo não a deixou dormir sobre os louros conquistados. A sua acção não se limitou a teorias, traduziu-se em realidades práticas. Carinhosa e bondosa, de estilo simples, objectiva, de linguagem clara, Adelaide Cabete deixa-nos uma obra importante.

Gica

mulher desenhada por mim




Caracolinhos

terça-feira, 21 de abril de 2009

Pedro Almodovar e a compreensão do feminino


Série Y
"Que Fiz Eu para Merecer Isto?"

Mulher à Beira de Um Ataque de Nervos
Por Vasco T. Menezes

As relações familiarese pessoais por Pedro Almodóvar. No centro desta comédia de humor absurdo, uma dona se casa viciada em anfetaminas, cola e detergente. Escabroso e grotesco, mas também hilariante e comvente.

Gloria (Carmen Maura), dona de casa madrilena, leva uma vida difícil: para além de ter de se preocupar em pagar as contas do gás, água e electricidade (em vias de serem cortados), divide ainda o apartamento, exíguo e sobrelotado, com o marido insensível, Antonio (um taxista com dotes de falsificador), dois filhos ainda pré-adolescentes mas bastante "avançados" (o mais velho, Toni, trafica droga, e o outro, Miguel, deita-se com o pai de um colega de escola) e a sogra diabética e avarenta que vende água com gás e madalenas, fechadas à chave num armário, aos restantes membros da família.

Não admira por isso que Gloria seja viciada em anfetaminas (é preciso arranjar toda a energia possível para conseguir ainda trabalhar como mulher-a-dias) nem que cheire cola ou detergente, a única maneira de encontrar a paz no caos que a rodeia.

É esta a existência tragicómica da protagonista de "Que Fiz Eu Para Merecer Isto?" (1984), o quarto filme de Pedro Almodóvar. Nele se estabelece uma complexa teia de relações pouco (ou nada) ortodoxas, através de um enredo tresloucado que quase desafia a descrição, carregado de momentos de enorme poder subversivo e movido por uma energia caótica e sórdida, à época um óbvio instrumento de ataque à repressão culturalmente institucionalizada que ainda se fazia sentir no dealbar da Espanha pós-franquista.

Serve isto para dizer que estamos perante um perfeito exemplo do cinema feérico e provocador de Almodóvar, principalmente o da primeira fase da carreira, quando a disponibilidade do realizador para a ousadia e tácticas de choque estava no auge. A título de exemplo, recordem-se as sátiras sexuais iniciais - "Pepi, Luci, Bom e Outras Raparigas Como a Mamã" (1980) e "Labirinto de Paixões" (1982) -, os estudos sobre o desejo erótico e as diferentes formas de amar, no brilhante "Matador" (1986) ou em "A Lei do Desejo" (1987), e as observações violentamente cáusticas da realidade à sua volta, nomeadamente os olhares "terroristas" sobre o catolicismo - "Negros Hábitos" (1983) - e os "media" - o mal-amado "Kika" (1993).

Em "Que Fiz Eu...", Almodóvar utiliza então as suas peculiares sensibilidades para traçar o retrato de uma família disfuncional, no qual são visíveis as habituais marcas do cineasta. Desde logo, o gosto pelo "kitsch", presente não só nas cores primárias do genérico (repetidas depois nas luzes dos néons publicitários que banham constantemente a casa de Gloria, dando-lhe fortes tonalidades vivas de azul e vermelho), mas também nos episódios do anúncio de TV e da canção que nela vemos ser interpretada (em "playback", pelo próprio Almodóvar e Fanny McNamara, elementos de um lendário duo "pop" travesti do início dos anos 80...).

Depois, aliado a esta exuberância visual, o cultivar de um tipo de humor singular, entre o grotesco e o escabroso, que não recua perante o risco do mau gosto, antes o acolhe de forma deliberada (veja-se a cena em que Toni vomita em cima da avó e recorde-se que uma das principais influências de Almodóvar é o amigo John Waters, o "papa" do "trash"). Finalmente, a opção por uma narrativa dinâmica, com os "gags" divertidíssimos a sucederem-se em cenas curtas e incisivas que o realizador monta com mestria.

Mas não é só a instituição familiar que está debaixo de fogo, já que toda a sociedade moderna (à deriva, de onde estão ausentes quaisquer valores morais ou éticos) é dinamitada. A classe trabalhadora será a principal visada (basta olhar para a inacreditável família de Gloria; para Cristal, a prostituta viciada em heroína que rouba cheques aos clientes; ou para a outra vizinha, que martiriza a filha, Vanessa, por esta lhe lembrar o marido que a abandonou), mas os estratos mais elevados (o casal de escritores alcoólicos e falhados - ele considera-se um "azarado", ela é cleptomaníaca - e a cantora Ingrid Müller - "a Juliette Greco alemã" -, diva acabada, por quem António está perdidamente apaixonado, à beira do suicídio) também não saem ilesos desta paródia selvagem e perversa.

No centro de toda esta colecção de excêntricas personagens, encontramos Gloria (fabulosa Carmen Maura, a primeira diva de Almodóvar), uma das figuras mais fascinantes da obra do realizador espanhol: desejosa de escapar a uma vida infernal de repressão, está constantemente à beira do colapso, mas acaba sempre por exibir apenas uma resignação cansada (é o expoente máximo de um dos aspectos mais curiosos do filme: a forma lacónica como todos encaram, com a maior das normalidades, a loucura à sua volta).

Quando finalmente "explode" (mata o marido com uma pata de presunto...), abrem-se as portas da libertação e percebemos que o filme é, acima de tudo, a odisseia de uma mulher em luta pela sua independência (aqui Almodóvar diz-nos que, apesar do fim da ditadura, durante os primeiros anos da Espanha democrática as mulheres ainda estavam longe de ser livres).

É uma ideia que sai reforçada pelo facto de as únicas personagens verdadeiramente negativas serem duas figuras de autoridade masculinas: o energúmeno marido de Gloria (para quem a mulher não passa de mero objecto e que nem dá pela falta de Miguel quando este sai de casa, depois de ter sido "adoptado" por um dentista pedófilo...) e o polícia com problemas de impotência que chantageia favores sexuais a Cristal, prometendo não a prender pelo consumo de heroína.

Ao mesmo tempo burlesca e trágica (repare-se, logo no início, no encontro sexual frustrado, muito "O Último Tango em Paris", ou na música tristíssima que acompanha a sofredora dona de casa nas suas deambulações pelas farmácias, na vã tentativa de comprar as tão necessárias "pastilhas"), Gloria é uma heroína feminina (e feminista) de proporções clássicas. A única relação significativa estabelece-se entre ela e Vanessa (que exibe estranhos poderes mentais, numa deliciosa referência ao "Carrie" de De Palma), naquele que é o momento mais comovente do filme: "Então, adopto-te eu a ti", responde-lhe a criança depois de Gloria ter dito que não a podia adoptar por também não ser boa mãe.

Quando a sogra (fanática religiosa que leva para casa um lagarto a quem chama "Dinheiro", por ser aquilo de que mais gosta, "além de madalenas, sacos de plástico e cemitérios") e Toni partem para a aldeia (para construir um rancho, ideia surgida depois de verem no cinema o "Esplendor na Relva", de Kazan, noutra citação saborosa de Almodóvar), Gloria assume-se finalmente como dona do seu destino (algo que não é contrariado pelo regresso de Miguel: será mais uma recompensa, a prova de amor que até então nunca tinha sido dada).

Fica assim cumprido o programa desta comédia negra escandalosamente divertida, um híbrido que mistura, com assinalável mestria, os mais diversos registos, da farsa ao melodrama, do fantástico ao puro delírio surreal. O resultado poderia mesmo inscrever-se num novo género, o "surrealismo (ou irrealismo) social"...

Gica

Padeira de Aljubarrota




Brites de Almeida não foi uma mulher vulgar. Era feia, grande, com os cabelos crespos e muito, muito forte. Não se enquadrava nos típicos padrões femininos e tinha um comportamento masculino, o que se reflectiu nas profissões que teve ao longo da vida. Nasceu em Faro, de família pobre e humilde e em criança preferia mais vagabundear e andar à pancada que ajudar os pais na taberna de donde estes tiravam o sustento diário. Aos vinte anos ficou órfã, vendeu os poucos bens que herdou e meteu-se ao caminho, andando de lugar em lugar e convivendo com todo o tipo de gente. Aprendeu a manejar a espada e o pau com tal mestria que depressa alcançou fama de valente. Apesar da sua temível reputação houve um soldado que, encantado com as suas proezas, a procurou e lhe propôs casamento. Ela, que não estava interessada em perder a sua independência, impôs-lhe a condição de lutarem antes do casamento. Como resultado, o soldado ficou ferido de morte e Brites fugiu de barco para Castela com medo da justiça. Mas o destino quis que o barco fosse capturado por piratas mouros e Brites foi vendida como escrava. Com a ajuda de dois outros escravos portugueses conseguiu fugir para Portugal numa embarcação que, apanhada por uma tempestade, veio dar à praia da Ericeira. Procurada ainda pela justiça, Brites cortou os cabelos, disfarçou-se de homem e tornou-se almocreve. Um dia, cansada daquela vida, aceitou o trabalho de padeira em Aljubarrota e casou-se com um honesto lavrador..., provavelmente tão forte quanto ela.

O dia 14 de Agosto de 1385 amanheceu com os primeiros clamores da batalha de Aljubarrota e Brites não conseguiu resistir ao apelo da sua natureza. Pegou na primeira arma que achou e juntou-se ao exército português que naquele dia derrotou o invasor castelhano. Chegando a casa cansada mas satisfeita, despertou-a um estranho ruído: dentro do forno estavam sete castelhanos escondidos. Brites pegou na sua pá de padeira e matou-os logo ali. Tomada de zelo nacionalista, liderou um grupo de mulheres que perseguiram os fugitivos castelhanos que ainda se escondiam pelas redondezas. Conta a história que Brites acabou os seus dias em paz junto do seu lavrador mas a memória dos seus feitos heróicos ficou para sempre como símbolo da independência de Portugal. A pá foi religiosamente guardada como estandarte de Aljubarrota por muitos séculos, fazendo parte da procissão do 14 de Agosto.

Caracolinhos

Situação das mulheres em Portugal

Portugal é um país, onde a igualdade entre homens e mulheres, deixou de ser uma mera utopia.

A luta contra a discriminação das mulheres, é hoje um troféu a erguer. Portugal, como o resto do mundo, deve preservar a igualdade entre os sexos... a todos os níveis...

Os factos históricos, acerca das conquistas femininas, não deixam margem para dúvidas. Em 1867, surge o Primeiro Código Civil, que melhora a situação das mulheres e, em 1910 o divórcio, era finalmente permitido. Corria o ano de 1824 e, o 1º Congresso Feminista e de Educação, marcava um novo progresso na história das mulheres. Era finalmente, permitido às mulheres trabalhar na Função Pública e mais tarde, votar.

As mulheres invadem nos anos aureos de 70, a política portuguesa. Em 1983, são introduzidas alterações de valor inequívoco, relativamente à assistência prestada a mulheres, no campo familiar e a prostituição deixa de ser penalizada. A imagem da mulher, tenta ser preservada a todo o custo.

Ainda nos últimos anos do século XX, várias mulheres são condecoradas no Dia Internacional da Mulher e, é promovida a igualdade entre homens e mulheres, sem qualquer forma de discriminação. A própria Constituição da República Portuguesa, apresenta alterações de uma importância extrema, no que compete à igualdade entre homens e mulheres.

O princípio da igualdade, da família, casamento e filiação, a participação na vida pública, são artigos que, a constituição consagra. A mulher conquista ainda o direito ao trabalho e à sua segurança, à liberdade de escolha de profissão e acesso à função pública, à saúde, ao ensino e à participação política por parte de todos os cidadãos, independentemente do sexo, a que pertencem.

A mulher conquistou também o merecido auxílio, aos direito reprodutivos, à maternidade, à invalidez, à reforma e à velhice. Contudo, a violência nas mulheres, é um dos aspectos, mais preocupantes em Portugal. O Código Penal introduziu alterações que, nem sempre são seguidas pelos cidadãos, em relação à violência que praticam. A protecção é assegurada, mas não na sua plenitude.

O medo de represálias faz com que, em muitos casos, os protagonistas de maus tratos, acabem por não sofrer qualquer consequência. Isto deve-se ao receio das mulheres, apresentarem queixa às autoridades. Este medo, invade também o campo do assédio sexual, no local de trabalho. As protecções foram estendidas, mas nem sempre são devidamente utilizadas pelas mulheres que lutam pelas mesmas, por falta de coragem.

Em Portugal, existem mais mulheres que homens e, os divórcios estão cada vez mais na moda. As mulheres invadem em maior número o universo académico, do que os homens.



É na área dos serviços sociais, das empresas e da saúde que, encontramos com mais frequência, alguém do sexo feminino. Na comunicação social e na vida política, é notória uma subida dos números que, simbolizam a presença das mulheres, nestes ramos.

Por todo o globo, existem comissões e entidades, que lutam pela igualdade das mulheres. Em Portugal, a Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, tem vindo a desempenhar um papel indispensável na luta pelo bem estar da mulher.

Na Assembleia da República foi apresentada há dias, uma proposta para que, a violência doméstica fosse considerada um Crime Público. Mesmo que não seja apresentada queixa, segundo esta proposta, o Ministério Publico tem permissão para investigar a ocorrência, desde o momento que tome conhecimento que, alguém sofre actos de violência.

Defender a mulher dos maus tratos, é uma necessidade, seja essa defesa em relação ao mundo lá fora ou mesmo da pessoa que, com ela partilha a cama. Humilhante, sem dúvida. Mas, infelizmente são os factos, que permitem a leitura da situação das mulheres em Portugal e, pelo mundo inteiro. Resta aguardar, pelas decisões...

Caracolinhos

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Virginia Woolf

(...) Neste ponto eu me deteria, mas as pressões da convenção o determinam que todo discurso deve terminar com uma peroração. E uma peroração dirigida às mulheres deve ter algo, voces hão de convir, de particularmente exaltador e nobilitante. Eu lhes imploraria que se lembrem de suas responsabilidades, que sejam mais elevadas, mais espirituais; eu lhes lembraria quanta coisa depende de vocês e que enorme influência podem exercer no futuro. Mas essas exortações, penso eu, podem ser tranqüilamente deixadas a cargo de outro sexo, que as colocará, e a rigor as tem colocado, com muito maior eloqüência do que posso alcançar. Quando vasculho minha própria mente, não encontro sentimentos nobres sobre sermos companheiras e iguais e influenciarmos o mundo para fins mais elevados. Descubro-me dizendo, breve e prosaicamente, que é muito mais importante se ser o que se é do que qualquer outra coisa. Não sonhem influenciar outras pessoas, eu diria, se soubesse fazê-lo de forma mais brilhante. Pensem nas coisas como são.

E mais uma vez vem-me à lembrança, mergulhando em jornais e romances e biografias, que, quando uma mulher fala com mulheres, deve ter algo muito desagradável escondido na manga. As mulheres são duras com as mulheres. As mulheres não gostam das mulheres. As mulheres - mas será que voces não estão completamente fartas da palavra? Garanto-lhes que eu estou. Concordemos, então, em que um artigo lido por uma mulher para mulheres deve terminar com algo particularmente desagradável.

Mas como é isso? Em que posso pensar? A verdade é que freqüentemente gosto das mulheres. Gosto de sua informalidade. Gosto de sua inteireza. Gosto de seu anonimato. Gosto... Mas não devo prosseguir desta maneira. Aquele armário lá... Vocês dizem que ele contém apenas guardanapos limpos, mas e se Sir Archibald Bodkin estiver escondido entre eles? Permitam-me então adotar um tom mais severo. Ter-lhes-ei eu, nas palavras precedentes, transmitido suficientemente as advertências e a exprobação da humanidade? Falei-lhes sobre o conceito muito baixo em que as tinha o Sr. Oscar Browning. Mostrei o que Napoleão pensou de vocês em certa época e o que Mussolini pensa agora. Depois, para o caso de alguma dentre vocês aspirar à ficção, transcrevi para seu bem a recomendaçãoo do crítico sobre reconhecerem corajosamente as limitações de seu sexo. Referi-me ao Professor X e dei destaque a sua afirmação de que as mulheres são intelectualmente, moralmente e fisicamente inferiores aos homens. Transmiti-lhes tudo o que veio a mim sem que eu procurasse, e aqui está uma advertência final, do Sr. John Langdon Davies. O Sr. John Langdon Davies adverte as mulheres de "que quando as crianças deixam de ser inteiramente desejáveis, as mulheres deixam de ser inteiramente necessárias". Esspero que vocês tomem nota disso.

Como posso incentivá-las mais a empreenderem a tarefa de viver? Minhas jovens, diria eu, e tenham a bondade de prestar atenção, pois a peroração está começando, voces são, a meu ver, vergonhosamente ignorantes. Nunca fizeram uma descoberta de qualquer importância. Nunca sacudiram um império ou levaram um exército à batalha. As peças de Shakespeare não são de sua autoria, e vocês nunca apresentaram uma raça de bárbaros às bençãos da civilização. Qual é sua desculpa? É muito fácil vocês dizerem, apontando para as ruas e praças e florestas do globo fervilhando de habitantes negros e brancos e cor de café, todos extremamente ocupados com o tráfego e as empresas e o fazer amor, que estivemos ocupadas com outro trabalho. Sem nosso trabalho, esses mares não seriam navegados e aquelas terras férteis seriam um deserto. Geramos e alimentamos e lavamos e instruímos, talvez até os seis ou sete anos de idade, o bilhão e seiscentos e vinte e três milhões de seres humanos que, segundo as estatísticas, existem atualmente, e isso, mesmo admitindo que algumas de nós tenhamos tido ajuda, leva tempo.

Há uma certa verdade no que vocês dizem, não o nego. Mas, ao mesmo tempo, permitam-me lembrar-lhes que existem pelo menos duas faculdades para mulheres na Inglaterra desde o ano de 1866; que, a partir do ano de 1880, a mulher casada foi autorizada, por lei, a possuir sua própria propriedade; e que em 1919 - e já se vão aí nove anos inteiros! - ela obteve o direito de voto. Será que posso também lembrar-lhes que a maioria das profissões está aberta a vocês há quase dez anos? Quando refletirem sobre esses imensos privilégios e sobre a extensão de tempo em que eles vêm sendo desfrutados, e sobre o fato de que deve haver, neste momento, umas duas mil mulheres capazes de ganhar mais de quinhentas libras por ano de um modo ou de outro, voces hão de concordar que a desculpa da falta de oportunidade, formação, incentivo, lazer e dinheiro já não se aplica. Além disso, os economistas têm-nos dito que a Sra. Seton teve filhos demais. Vocês devem, é claro, continuar a ter filhos, mas como dizem eles, aos dois e aos três, e não às dezenas e às dúzias.

Assim, com algum tempo em suas mãos e algum conhecimento livresco na cabeça - voces já tiveram o bastante do outro tipo e, em parte, suspeito de que estejam sendo enviadas à universidade para serem desinstruídas -, sem dúvida ingressarão num outro estágio de sua carreira muito longa, muito laboriosa e altamente obscura. Milhares de penas estão prontas para sugerir-lhes o que devem fazer e que efeito terão. Minha própria sugestão é um pouco fantástica, admito; prefiro, portanto, colocá-la em forma de ficção.

Disse-lhes, no transcorrer deste ensaio, que Shakespeare teve uma irmã; mas não procurem por ela na vida do poeta escrita por Sir Sidney Lee. Ela morreu jovem - ai de nós! Não escreveu uma só palavra. Ela está enterrada onde os ônibus param agora, em frente ao Elephant and Castle. Pois bem, minha crença é que essa poetisa que nunca escreveu uma palavra e que foi enterrada numa encruzilhada ainda vive. Ela vive em vocês e em mim, e em muitas outras mulheres que não estão aqui esta noite, porque estão lavando a louça e pondo os filhos para dormir. Mas ela vive; pois os grandes poetas nunca morrem, são presenças contínuas, precisam apenas da oportunidade de andarem entre nós em carne e osso. Essa oportunidade, segundo penso, começa agora a ficar a seu alcance conferir-lhe. Pois minha crença é que, se vivermos aproximadamente mais um século - e estou falando na vida comum que é a vida real, e não nas vidinhas à parte que vivemos individualmente - e tivermos, cada uma, quinhentas libras por ano e o próprio quarto; se tivermos o hábito da liberdade e a coragem de escrever exatamente o que pensamos; se fugirmos um pouco da sala de estar comum e virmos os seres humanos nem sempre em sua relação uns com os outros, mas em relação à realidade, e tb o céu e as árvores ou o que quer que seja, como são; se olharmos mais além do espectro de Milton, pois nenhum ser humano deve tapar o horizonte, se encararmos o fato de que não há nenhum braço em que nos apoiarmos, mas que seguimos sozinhas e que nossa relação é para com o mundo da realidade e não apenas para com o mundo dos homens e das mulheres, então chegará a oportunidade, e o poeta morto que foi a irmã de Shakespeare assumirá o corpo que com tanta freqüência deitou por terra. Extraindo sua vida das vidas das desconhecidas que foram suas precursoras, como antes fez seu irmão, ela nascerá. Quanto a ela chegar sem essa preparação, sem esse esforço de nossa parte, sem essa determinação de que, quando nascer novamente, ela achará possível viver e escrever sua poesia, isso não podemos esperar, pois isso seria impossível. Mas afirmo que ela viria se trabalhássemos por ela, e que trabalhar assim, mesmo na pobreza e na obscuridade, vale a pena.

Virginia Woolf, outubro de 1928.

Gica